CARNAVAL: DIAS DE FOLIA

                                     Imagem: http://www.tempoagora.com.br/lazer/como-vai-ficar-o-tempo-carnaval/

A maior festa do Brasil e uma das maiores do mundo, onde mobiliza o país de norte a sul de leste a oeste e são poucas as cidades onde não há algum desfile de blocos carnavalescos pelas ruas. Mesmo nas cidades onde não há desfiles de escolas de samba, muitos saem às ruas desfilando por conta própria, encontrando-se com amigos, conhecidos nos bares e locais públicos de suas cidades.

O clima de festa toma conta do país e mesmo não sendo dias de feriados, muitas empresas fazem um feriado prolongado, tudo em nome da curtição e da folia, nesses dias que antecedem a quaresma e a preparação da páscoa. Mesmo muitos sabendo que é uma festa brasileira, poucos sabem suas origens e como tudo começou.

Segundo Alencar autor de BR 500: Um guia para a redescoberta do Brasil, “No Brasil, desde os tempos da colônia, às vésperas da quaresma, os poderosos davam uma espécie de “autorização” para que o povo, de dia a dia, tão sofrido, pudesse brincar um pouco.” Era uma espécie de vale tudo, não importava se você era da classe operária ou mesmo escravo, todos tinham esse dia por direito e poderiam brincar como bem entendessem.

“No “entrudo”, os escravos jogavam água e farinha uns nos outros, cantando o gostinho da liberdade. No império, vieram os blocos do “Zé Pereira”, com seus bumbos à frente de grupos fantasiados. Na Bahia, o povo negro saía com seus cordões e afoxés.”Segundo conta Alencar em seu guia para redescoberta do Brasil. Era uma grande festa, comemorada com grande alvoroço e nesse dia não havia escravos, patrões ou empregados, somente havia foliões.

Para Pinto (2016) o entrudo era “uma festa de origem portuguesa que, na colônia, era praticada pelos escravos. Estes saíam pelas ruas com seus rostos pintados, jogando farinha e bolinhas de água de cheiro nas pessoas.” Essa era a festa dos escravos que tomavam as ruas nesse dia, sem medo ou receio de serem castigados. “Tais bolinhas nem sempre eram cheirosas. O entrudo era considerado ainda uma prática violenta e ofensiva, em razão dos ataques às pessoas, mas era bastante popular.”

Porém havia algumas regras para a alta sociedade e “Isso pode explicar o fato de as famílias mais abastadas não comemorarem com os escravos, ficando em suas casas. Porém, nesse espaço, havia brincadeiras, e as jovens moças das famílias de reputação ficavam nas janelas jogando águas nos transeuntes.” (Pinto, 2016) Mesmo afastado eles acabam se envolvendo com a festa e o espírito que mais tarde seria denominado de carnaval.

Por volta de meados do século XIX, no Rio de Janeiro, a prática do entrudo passou a ser criminalizada, principalmente após uma campanha contra a manifestação popular veiculada pela imprensa. Enquanto o entrudo era reprimido nas ruas, a elite do Império criava os bailes de carnaval em clubes e teatros. No entrudo, não havia músicas, ao contrário dos bailes da capital imperial, onde eram tocadas principalmente as polcas.

Com o passar dos anos a elite acabou fazendo uma festa também para ela e “A elite do Rio de Janeiro criaria ainda as sociedades, cuja primeira foi o Congresso das Sumidades Carnavalescas, que passou a desfilar nas ruas da cidade. Enquanto o entrudo era reprimido, a alta sociedade imperial tentava tomar as ruas.” (Pinto, 2016) Não importava quem fosse, todos estavam querendo participar da festa e quando não podiam, criavam suas próprias festas.

Mesmo com a repressão não havia mais jeito “[...] as camadas populares não desistiram de suas práticas carnavalescas. No final do século XIX, buscando adaptarem-se às tentativas de disciplinamento policial, foram criados os cordões e ranchos.” (Pinto, 2016) Se não podiam festejar de uma forma, faziam de outra e tentavam a adaptação da festa.

Para os festejos “Os primeiros incluíam a utilização da estética das procissões religiosas com manifestações populares, como a capoeira e os zé-pereiras, tocadores de grandes bumbos. Os ranchos eram cortejos praticados principalmente pelas pessoas de origem rural.” (Pinto, 2016) Dessa forma a festa ficava dentro da lei e eles poderiam festejam em paz.

Ainda segundo Alencar cita no guia BR 500 “No Recife, as bandas, para acompanhar os capoeiras, tocavam com rapidez, fazendo o povo “ferver”: nascia o frevo.” Ainda no século XIX “As marchinhas de carnaval surgiram, e o nome originário mais conhecido é o de Chiquinha Gonzaga, bem como sua música O Abre-alas.” (Pinto, 2016) A festa estava consolidada dessa forma, arrastando multidões para sua comemoração.

“Com os automóveis, já no século passado, chegaram os desfiles de “corsos”. E as escolas de samba começaram a organizar a folia em verdadeiras óperas populares, com seus enredos e milhares de figurinos.” (Alencar, 2000) Dando início ao carnaval que conhecemos hoje.

Somente mais tarde surgiu a música que ficou como marca registrada do carnaval. “O samba somente surgiria por volta da década de 1910, com a música Pelo Telefone, de Donga e Mauro de Almeida, tornando-se ao longo do tempo o legítimo representante musical do carnaval.” (Pinto, 2016)

Já “Na Bahia, os primeiros afoxés surgiram na virada do século XIX para o XX com o objetivo de relembrar as tradições culturais africanas. Os primeiros afoxés foram o Embaixada Africana e os Pândegos da África. Por volta do mesmo período, o frevo passou a ser praticado no Recife, e o maracatu ganhou as ruas de Olinda.” (Pinto, 2016) Dessa forma estava estabelecida a maior festa do estado, mobilizando milhões de reais em sua organização e também faturando outros milhões, com o turismo e a vinda de pessoas de outras regiões e países.

Com a fama da festa se espalhando “Ao longo do século XX, o carnaval popularizou-se ainda mais no Brasil e conheceu uma diversidade de formas de realização, tanto entre a classe dominante como entre as classes populares.” (Pinto, 2016) Agora não havia mais separação e a festa popular era de todos, juntos faziam dela um grande acontecimento.

Foi também que “Por volta da década de 1910, os corsos surgiram, com os carros conversíveis da elite carioca desfilando pela avenida Central, atual avenida Rio Branco. Tal prática durou até por volta da década de 1930.”(Pinto, 2016) Esse era o embrião dos desfiles que viriam mais tarde, sacudindo as passarelas do samba e levando milhares de pessoas a loucura, literalmente.

Hoje “O carnaval, além de ser uma tradição cultural brasileira, passou a ser um lucrativo negócio do ramo turístico e do entretenimento. Milhões de turistas dirigem-se ao país na época de realização dessa festa, e bilhões de reais são movimentados na produção e consumo dessa mercadoria cultural.” Mas será que ele é somente isso?

O termo “Carnaval vem do latim e provavelmente significa “adeus à carne”. O carnaval é uma grande festa que acontece antes do período da Quaresma. A Bíblia não diz nada sobre o carnaval. O carnaval não existia nos tempos da Bíblia.” Segundo o site “A luz da bíblia e do cristianismo.” O mesmo site continua explicando que “A festa só surgiu alguns séculos depois de Cristo. Várias culturas antigas tinham festas parecidas com o carnaval na primavera, que podem ter influenciado o calendário cristão. Na tradição católica o carnaval se tornou numa grande celebração antes do tempo de privação e penitência da Quaresma.”

Isso é, podem fazer tudo o que quiser, mas após a quarta feira de cinzas, nada de exageros, deve ficar em preparação para a páscoa que se aproxima. “Durante a Quaresma, os fiéis católicos não deveriam comer carne nem fazer festas, para se purificarem em preparação para a Páscoa.” (LBC, 2016)

Para compensar toda essa penitência dos quarenta dias, foi definido que “Então no dia antes de começar a Quaresma, surgiu a tradição de aproveitar o “último dia de liberdade”, comendo, festejando e desfrutando de muitos prazeres. Esse dia ganhou o nome de carnaval.” (LBC, 2016)

Em resumo: É uma festa pagã que foi resgatada pelo cristianismo. O entrudo foi trazido pelos Portugueses que já a conheciam desde o século XV, derivando desse inicio uma das maiores festas do mundo. Uma festa de libertação das amarras, uma festa de excessos, uma grande festa que todos fazem de tudo, até o que não deveriam fazer e depois passam quarenta dias em total penitência, tentando se purificar pelo que fizeram no carnaval. É uma festa para extravasar e sair completamente do armário. São quatro dias de folia, quatro dias de liberdade! É como se fosse uma despedida de solteiro.

Meu blog: http://guerreiro-das-sombras.webnode.com/

Para saber mais:

ALENCAR. Chico, BR500: um guia para a redescoberta do Brasil. 3° edição. Ed. Vozes, 2000. Rio de Janeiro RJ

LBC. Qual a origem do carnaval? Disponível em: https://www.respostas.com.br/qual-e-osignificado-do-carnaval/ Acesso em: 25/02/2017

PINTO, Tales dos Santos. "História do Carnaval no Brasil"; Brasil Escola. Disponível em <http://brasilescola.uol.com.br/carnaval/historia-do-carnaval-no-brasil.htm>. Acesso em 25 de fevereiro de 2017.

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