COLEÇÕES: ARQUIVO DE GUERRA DE ISAMU KUNIYOSHI
Imagem: http://www.rusmea.com/2014/01/jyma-o-fogo-e-os-ossos-da-guerra-2-e-o.html
Já escrevi vários artigos sobre coleções e mantenho minha colmeia sobre o tema aberta para quem quiser saber um pouco mais sobre elas e também compartilhar materiais pertinentes ao assunto. Não há regras para começar uma coleção e nem o objeto da coleção, todas são realizadas pelo entusiasmo de seus colecionadores, seja por valorizar o objeto ou ser pesquisador de tais artefatos, todos eles tendo em comum a paixão pelos objetos de suas coleções.
Porém no Japão um colecionador levou isso a outro nível e não somente mantém sua coleção catalogada e organizada, como está aberta ao público em uma permanente exposição. Mas, não é uma coleção comum, não somente pelo seu enorme valor cultural, mas também por relatar a história das vítimas da segunda guerra mundial no Japão.
Segundo Ken Noguchi ativista e também coletor de restos mortais da segunda guerra mundial, “O Senhor Kuniyoshi tem coletado itens de guerra, por mais de 50 anos, acumulando milhares de objetos dos campos de batalha e dos lugares atacados em Okinawana na Segunda Guerra Mundial. Uma parte desse material coletado, é apresentado em exposições itinerantes pela província.” (Rusmea.com, 2015)
Com o seu trabalho e também “Devido a que o Senhor Kuniyoshi coleta restos mortais, ao mesmo tempo ele também encontra uma grande quantidade de objetos das vítimas, cuja maioria ele leva para casa, as lava peça por peça com muito cuidado, aplica anti-oxidante (sic) em algumas delas, cataloga e guarda com extremo rigor a sua triste coleção.” (Rusmea.com, 2015)
Em respeito às vítimas da guerra “Os objetos que o proprietário do museu consegue reconhecer, ele envia para as respectivas famílias. Porém, a grande maioria dos objetos sem identificação, eram por ele enterrados, mas sentindo que todo esse material precisava ser visto pelo maior número possível de pessoas, o Senhor Kuniyoshi decidiu fundar o 'Arquivo da guerra' e expor as peças ao público.” (Rusmea.com, 2015)
Hoje o “Arquivo da Guerra” reúne uma vasta coleção, sendo sempre aumentada a cada nova expedição de seu proprietário e organizador. Pelos objetos expostos e sua grande quantidade impressiona até os mais experientes observadores. Segundo o próprio Noguchi “Eu visitei o arquivo do Senhor Kuniyoshi e confesso que perdi a fala ao ver a crueza da coleção. Uma grande quantidade de objetos queimados por lança-chamas oriundos do interior de cavernas. Todos os objetos narram uma triste história, mas o que mais me impactou, foi a tigela derretida por lança-chamas, com um pedaço de osso incrustado... (Rusmea.com, 2015)
Se essa curiosa coleção deixa pasmos até os mais experientes pesquisadores, imaginem o susto das pessoas leigas no assunto e que não estão preparados para o que verão com seus próprios olhos. “Me foi mostrado apenas uma parte da coleção do Senhor Kuniyoshi. De todos os museus que visitei, este é de longe o mais impressionante. Com certeza, isso se deve ao fato desse homem ter coletado durante mais de 50 anos, todos esses objetos e apresentá-los ao público.” (Rusmea.com, 2015) Desabafou Noguchi.
O mais impressionante é que o Kuniyoshi não é um acadêmico correndo atrás de uma tese ou tentando provar algo para o mundo. Ele vem recolhendo as peças que encontra, limpando e catalogando tudo, conforme o seu senso comum o impele a fazer. Porém mesmo “Se trata de algo amador, mas imagino que não tenha sido nada fácil, coletar, limpar com tanto cuidado cada peça e catalogá-las uma a uma, fazendo do lugar, algo sem igual no mundo.” (Rusmea.com, 2015) Foi o que concluiu Noguchi na visita que fez a coleção.
A coleção de Kuniyoshi também contribui com o conhecimento sobre a guerra, não somente em teoria, mas mostra muito do que existia na época, aumentando o conhecimento dos pesquisadores na prática. Isso podemos observar pelo testemunho de Noguchi após a visita. “Eu sou de uma geração que não conheceu a guerra, mas através da coleta de restos mortais e da descoberta de tais objetos, penso que agora eu consigo sentir o que foi a guerra, mas, na prática, e não na teoria.” E ele segue com suas afirmações dizendo: “Até hoje eu tinha visto a guerra através de filmes e livros, mas em comparação, a atividade de coletar restos mortais me transmite diretamente com muito mais desespero, o nível da tragédia.” (Rusmea.com, 2015)
Com esse tipo de iniciativa o Japão está caminhando para preservar seu legado, lembrar sua história e preencher as lacunas em sua educação sobre a guerra. Eu sempre senti um grande desconforto com as palavras 'Dia em memória do fim da guerra'. O japão foi derrotado e até hoje expressam a data pelo duvidoso termo 'Fim da guerra', que simboliza a sociedade japonesa do pós-guerra.” (Rusmea.com, 2015) Disse Noguchi.
Porém frente ao poderio dos aliados “O Japão perdeu a guerra e com a derrota, foi preciso que o país se reerguesse como sociedade, no entanto, essa mesma sociedade vira o rosto quando o assunto é guerra ou conflitos. Eu seguirei tratando de vasculhar os campos de batalha, junto com o senhor Kuniyoshi e outros mais e assim, transmitir a verdadeira face da guerra às gerações futuras.” (Rusmea.com, 2015) Finalizou Noguchi.
Com a quantidade de vidas perdidas nessas batalhas travadas no Japão, a coleção de Kuniyoshi está longe de ser finalizada. Porém com a luta de intrépidos caçadores como Noguchi e Kuniyoshi e seus ajudantes voluntários, a história desses objetos serão contadas, assim como também as histórias das vítimas que eram as donas desses objetos e perderam suas vidas nas cavernas do Japão.
Segue fotos do Museu Arquivo da Guerra. Todas as fotos são do site Rusmea.com, 2015.
Granadas e vidros de remédios. (Todos os objetos possuem inscrições com tinta branca e preta, do local e data da descoberta. NDT.rusmea.com)
Sabres de guerra enfileirados.
Uma panela militar transpassada por artilharia.
Projéteis.
Uma montanha de óculos encontrados no interior de casamatas abandonadas.
Pistolas queimadas por lança-chamas.
Tubos de ensaio deformados pelo calor das chamas.
O alpinista Ken Noguchi
Cada objeto tem uma história.
(OBS) Segundo fontes, devido a que os objetos coletados por Isamu Kuniyoshi, são catalogados com os lugares em que foram encontrados, a localização do pequeno museu, não foi divulgada para evitar a ação de vândalos nos sítios de coletas. rusmea.com
Meu blog:
http://guerreiro-das-sombras.webnode.com/
Para saber mais:
NOGUCHI, Ken. Arquivos da guerra de Isamu Kuniyoshi. Disponível em: http://www.rusmea.com/2014/01/jyma-o-fogo-e-os-ossos-da-guerra-2-e-o.html Acessoe em: 13/06/2017
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Comentários
Sergio Weinfuter
há 6 anos #3
Sim, infelizmente @Maria do Socorro Oliveira é isso mesmo. O homem não consegue viver em paz com os seus semelhante e não usa o dom da palavra para evitar conflitos, deixando para trás dor, tristeza, medo e toda sorte de maleficios, criado por ele próprio, mas que sempre atinge os mais indefesos.
Sergio Weinfuter
há 6 anos #2
Sim @Maria Merino Oslara é uma coleção curiosa e assustadora. Ela é o legado deixado para a posteridade das vitimas da guerra e também um lembrete para todos sobre os horrores de uma guerra.
Maria Merino
há 6 anos #1