Sergio Weinfuter

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Dia dos mortos, uma celebração da vida

Dia dos mortos, uma celebração da vida

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                                         Imagem: http://crematoriovilaalpina.com.br/dia-de-finados-pais-mexico/



No dia 2 de novembro de todos os anos é lembrando os mortos, pessoas queridas que se foram, deixando este mundo para trás e seguindo para um outro lugar melhor, pelo menos é o que se acredita. Mas ninguém sabe o que acontece após o espírito de vida deixar o corpo carnal para trás, seguindo para um lugar desconhecido para todos os seres vivos, um lugar de mistério, um lugar que ninguém voltou para dizer como é, nem o que esperar dele. A morte e seu destino é uma completa incógnita para os seres vivos e nem a ciência conseguiu explicar o que se segue após o fim da vida e o início da morte, tudo o que pensamos saber, é mera especulação.

Muitos tem medo da morte e se pudessem nunca seguiriam por ela, mas assim como a vida a morte é implacável e sem distinção acaba levado a todos. Por isso os seres humanos se apegam em suas crenças e religiões, tentando apaziguar o medo que sentem da morte, que a cada dia se aproxima mais de todos os seres vivos.

d42f52ed.jpgAlguns adeptos das religiões elevam suas preces lembrando dos mortos e muitos membros delas acendem velas na tentativa de iluminar o caminho dos defuntos, pois acreditam que o caminho trilhado por eles é escuro. Segundo historiadores que pesquisam sobre essa crença do cristianismo, a prática de rezar pelos mortos vem de muito longe. “Desde o século II, alguns cristãos rezavam pelos falecidos, visitando os túmulos dos mártires para rezar pelos que morreram.” Incentivando a crença popular e tomando partido apoiando seus fiéis, “No século V, a Igreja dedicava um dia do ano para rezar por todos os mortos, pelos quais ninguém rezava e dos quais ninguém lembrava.” (Wikipédia, 2018)

Fazendo frente a crença dos seus fiéis a igreja católica continuo a incentivar a prática de rezar pelos mortos e “Também o abade Odilo de Cluny, em 998, pedia aos monges que orassem pelos mortos. Desde o século XI os Papas Silvestre II (1009), João XVII (1009) e Leão IX (1015) obrigam a comunidade a dedicar um dia aos mortos. No século XIII esse dia anual passa a ser comemorado em 2 de novembro, porque 1 de novembro é a Festa de Todos os Santos.” (Wikipédia, 2018)

É claro que nem todos estavam de acordo com essa nova doutrina da igreja e começaram a questionar esta prática. Para se defender dos ataques “A doutrina católica evoca algumas passagens bíblicas para fundamentar sua posição (cf. Tobias 12,12; Jó 1,18-20; Mt 12,32 e II Macabeus 12,43-46), e se apóia (sic) em uma prática de quase dois mil anos.” (Wikipédia, 2018)

Mesmo com todas as referências bíblicas apoiando os cristãos foram eles que criaram este costume de rezar pelos seus mortos? A igreja faria história instituindo o dia dos mortos? Foi uma ideia original ou havia sido copiada de outro lugar? Quem sabia não respondia e os demais imersos na ignorância, acreditavam que foram os cristãos que havia criado este dia para honrar e rezar pelos seus entes queridos que haviam morrido. Portanto, uma autêntica prática cristã!

Na realidade “[...] o estabelecimento de uma data específica para a comemoração dos mortos é uma iniciativa dos druidas, pessoas encarregadas das tarefas de aconselhamento, ensino, jurídicas e filosóficas dentro da sociedade celta, que acreditavam na continuação da existência depois da morte.” (Wikipédia, 2018)  Novamente é uma data festiva comemorada pelos Celtas e cristianizada pela igreja que depois disso, passou a fazer parte oficialmente do calendário das festas cristãs.

.

6d8a792e.jpgA data é a mesma que os antigos Celtas lembravam seus mortos, mas com algumas diferenças em relação a moderna festa cristã. Para comemorar o dia dos mortos os Celtas “Reuniam-se nos lares, e não nos cemitérios, no primeiro dia de novembro, para homenagear e evocar os mortos.” (Wikipédia, 2018) Na era cristã as pessoas se reúnem no cemitério e no dia dois de novembro, mas ainda é a antiga festa Celta que foi modificada para a tradição do cristianismo.

Continuando com a expansão do cristianismo, levando consigo a antiga data Celta e sua celebração aos mortos, a comemoração continuava a ser difundida em todo lugar onde os cristãos passavam, mesmo após o grande cisma da igreja que deu origem a outras denominações, ela continuou a ser lembrada. Essas novas denominações adotaram a festa em homenagem a lembrança de seus entes queridos e “Após a Reforma Protestante, a celebração do Dia de Finados foi fundida ao da Festa de Todos os Santos na Igreja Anglicana, ainda que tenha sido posteriormente desmembrada em certas igrejas coesas ao Movimento de Oxford no século XIX.” (Wikipédia, 2018)

Mas a festa não tinha muita importância para esses fiéis, a celebração ainda era pequena, porém logo “A observância da comemoração foi restaurada, todavia, em 1980, por meio da publicação do livro litúrgico The Alternative Service Book, o qual define a data como "festividade menor" intitulada "Comemoração dos Fiéis Defuntos".” (Wikipédia, 2018)  Com esta definição ela passou a fazer parte do calendário das festividades anuais oficialmente e aos poucos começava a ganhar importância.

Se entre os protestantes de outros lugares a celebração demorou a ter importância, o mesmo não se pode dizer do continente europeu, pois “Entre os protestantes históricos da Europa, a tradição foi mais tenazmente mantida. Mesmo a forte influência de Martinho Lutero não foi suficiente para abolir sua celebração na Saxônia durante sua vida e, apesar da sanção oficializada pela Igreja Luterana, sua memória sobrevive fortemente no costume popular.” (Wikipédia, 2018)

Também “Em 1816, a Prússia introduziu uma nova data para a lembrança dos mortos, com feriado, entre os cidadãos luteranos: era o Totensonntag, ou seja, Domingo dos Mortos, celebrado no último domingo antes do Advento.” Este costume foi mais tarde adotado também pelos protestantes alemães, ainda que não se tenha espalhado muito além das regiões de maioria luterana na Alemanha.” (Wikipédia, 2018) Embora interessante este costume de celebrar o Domingo dos mortos não foi muito bem-aceito e logo caiu em desuso, permanecendo oficialmente somente o dia dos mortos conforme conhecemos.

Diferentemente das igrejas católica e protestante, a igreja metodista tem sua própria forma de celebrar o dia dos mortos. “Para a Igreja Metodista, são santos todos os fiéis batizados, de modo que, no Dia de Todos os Santos, a congregação local honra e recorda seus membros falecidos.” (Wikipédia, 2018) Não é uma lembrança da morte, mas uma celebração da vida, onde seus membros em vida ou mortos, são lembrados.

Em outra vertente cristã, o espiritismo, encontramos também uma diferente forma de lembrar os mortos em seu dia. “Para os espíritas, visitar o túmulo é a exteriorização da lembrança que se tem do espírito querido, é uma forma de manifestar a saudade, o respeito e o carinho, pois segundo consta no Livro dos Espíritos, questão 320, a lembrança dedicada aos desencarnados os sensibiliza, conforme sua situação. Entretanto, nada há de solene comparando-se aos demais dias.” (Wikipédia, 2018)

4ac8c2e0.jpgA diferença do espiritismo em relação as demais seitas e religiões está em sua forma de pensar. Segundo sua crença, celebrar o dia dos mortos é aceito “Desde que realizada com boa intenção, sem ser apenas um compromisso social ou protocolar, desde que não se prenda a manifestações de desespero, de cobranças, de acusações, como ocorre em muitas situações, a visitação ao túmulo não é condenável, como nada o é no Espiritismo, apenas é conduzida à compreensão de forma lógica e racional.” (Wikipédia, 2018)

Nada de choro, escândalos, chamar atenção ou mesmo ser somente uma obrigação, pois segundo a crença espírita, nada disso adiantaria. Para o espiritismo “O espírito, ou alma, agora desencarnada, não se encontra no cemitério, e pode ser lembrada e homenageada através da prece em qualquer lugar. A prece proferida pelo coração, pelo sentimento, santificando a lembrança, e é sempre recebida com prazer e alegria pelo espírito desencarnado.” (Wikipédia, 2018) Portanto não adiantaria ficar gritando na tumba, pois nada estaria nela para te ouvir, a não ser, restos inanimados do falecido. Essa crença se aproxima mais da tradição Celta!

Deixando um pouco de lado a celebração Celta e suas antigas raízes, existe outra celebração que lembra os mortos no mesmo dia, rivalizando de certa forma no mundo moderno com a comemoração dos antigos povos Celtas. Essa é a celebração do dia dos mortos no México que é mais recente, mas tem sua forma peculiar de lembrar seus mortos queridos. Suas origens não são tão antigas quanto a celebração Celta, mas para o povo mexicano, tem a mesma importância da antiga data pagã dos Celtas.

Segundo historiadores e pesquisadores da cultura mexicana, “No México, o Dia dos mortos é uma celebração de origem indígena, que honra os falecidos no dia 2 de novembro. Começa no dia 31 de outubro e coincide com as tradições católicas do Dia dos Fiéis Defuntos e o Dia de Todos os Santos.” (Wikipédia, 2018) Ou seja, mesmo com todas as variações o dia dos mortos é celebrado em praticamente todo mundo cristão no mesmo dia.

Essa celebração em estilo Mexicano também foi exportada para outros países e hoje “Além do México, também é celebrada em outros países da América Central e em algumas regiões dos Estados Unidos, onde a população mexicana é grande. A UNESCO declarou-a como Património Imaterial da Humanidade. (Wikipédia, 2018) Como acontece em todas as culturas, os povos vão migrando e levando consigo suas crenças e tradições.

ff771ee9.jpgO que se sabe das origens desta celebração em memória aos mortos é fruto de muitas pesquisas sobre a antiga forma de vida dos povos que antecederam os mexicanos modernos e segundo elas  “As origens da celebração no México são anteriores à chegada dos espanhóis. Há relatos que os astecas, maias, purépechas, náuatles e totonacas praticavam este culto.” Uma festa diferente da antiga cultura Celta, mas com a mesma finalidade de lembrar seus mortos. Acredita-se que “Os rituais que celebram a vida dos ancestrais se realizavam nestas civilizações pelo menos há três mil anos. Na era pré-hispânica era comum a prática de conservar os crânios como troféus, e mostrá-los durante os rituais que celebravam a morte e o renascimento.” (Wikipédia, 2018) Portanto em suas origens também é uma autêntica festa pagã!

Na cultura dos povos Astecas “O festival que se tornou o Dia dos Mortos era comemorado no nono mês do calendário solar asteca, por volta do início de agosto, e era celebrado por um mês completo.” Portanto uma enorme festa que durava um mês inteiro. Segundo acreditavam os antigos Asteca, “As festividades eram presididas pela deusa Mictecacíhuatl, conhecida como a "Dama da Morte" (do espanhol: Dama de la Muerte) - atualmente relacionada à La Catrina, personagem de José Guadalupe Posada – e esposa de Mictlantecuhtli, senhor do reino dos mortos. As festividades eram dedicadas às crianças e aos parentes falecidos.” (Wikipédia, 2018)

Essa festa não lembra somente a morte e os mortos, mas também é uma celebração da vida, por isso ela é dedicada as criança, que em tese, estão começando suas vidas. Esta “É uma das festas mexicanas mais animadas, pois, segundo acreditam, os mortos vêm visitar seus parentes.” Esse reencontro entre mortos e vivos é muito comemorado e “Ela é festejada com comida, bolos, festa, música e doces preferidos dos mortos, os preferidos das crianças são as caveirinhas de açúcar. Segundo a crença popular, nos dias 1 e 2, chamados de Días de Muertos, os mortos têm permissão divina para visitar parentes e amigos.” (Wikipédia, 2018)

eb8ecc75.jpgAssim como esperamos qualquer visita com nossas casas limpas e organizadas, o dia dos mortos também não foge a regra e suas casas precisam estar apresentáveis para receber os ilustres visitantes do outro mundo, “Por isso, as pessoas enfeitam suas casas com flores, velas e incensos, e preparam as comidas preferidas dos que já partiram. As pessoas fazem máscaras de caveira, vestem roupas com esqueletos pintados ou se fantasiam de morte.”  (Wikipédia, 2018) Desta forma se torna uma festa agradável, extremamente colorida. Nada de medo, aspectos sóbrios ou sustos, é uma celebração alegre e divertida, pois querendo ou não, estão a espera da visita de seus mortos queridos.

Tanto a antiga festa Celta como a tradição Mexicana se espalharam pelo mundo e ambas são comemoradas no dia dois de Novembro de cada ano. Hoje elas fazem parte do calendário de festas anuais, lembrando os entes queridos que se foram. Alguns reservam este dia para encontro com seus parentes nos cemitérios, outros deixam enfeites e flores nos túmulos de seus entes queridos, mas dependendo da crença, somente rezam em suas casas dirigindo suas preces aos seus queridos mortos. As duas tradições hoje se completam na lembrança do dia dos mortos, mas além de tudo, celebram a vida das pessoas que se foram. Uma justa homenagem aos mortos, uma lembrança da vida.


Para saber mais:

____Dia dos fiéis defuntos. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_dos_Fi%C3%A9is_Defuntos Acesso em: 01/11/2018

____Dia dos mortos. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_dos_Mortos Acesso em: 01/11/2018


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