Halloween: doces ou travessuras?

                                          Imagem: https://www.calendarr.com/brasil/dia-das-bruxas-halloween/

Prefere doces ou travessuras?

Com esta frase famosa se inicia a primeira abordagem em uma casa no dia 31 de outubro de todos os anos que é comemorado o dia das bruxas ou Halloween. Com esta ameaça veladas as crianças vão passando de casa em casa e fazendo a festa recolhendo doces por onde passam, afinal de contas, é mais fácil doar um doce do que deixar alguma criança realizar qualquer tipo de travessuras em sua casa, pois nunca se sabe o que pode acontecer.

Hoje o Halloween está inserido no contexto de festas anuais em diversos países pelo mundo, sendo esta festa muito forte em países como o Canadá, Estados Unidos e em todo o Reino Unido. Os lojistas fazem a festa com a venda de doces e fantasias para os foliões que se divertem neste dia, enquanto os vendedores enchem os bolsos. Virou mais uma das atrações de aumento nas venda para o comércio em geral.

Mas o Hallowen não é somente isso, é também uma festa no mínimo curiosa. Seu tema é inusitado, pois lembra o lado sombrio, a escuridão, o lado escuro e muitos utilizam este dia para assustar os desavisados. No Brasil ele é mais conhecido pelo sugestivo nome de dia das bruxas, seres que gostam da escuridão e segundo o folclore, percorrem as distâncias montadas em uma vassoura voadora.

Porém o dia de Hallowen é muito mais antigo que esta festa comemorada na modernidade, muitos dos aspectos que conhecemos e que são relacionamos a ele, não existiam em sua origem, foram introduzidos posteriormente. Segundo a professora licenciada em letras Daniela Diana em seu site Toda Matéria (2018) comenta que “A origem da festa do Halloween possui uma grande trajetória, visto ser praticada há mais de 3 mil anos. Ela surgiu com os celtas, povo que era politeísta e acreditava em diversos deuses relacionados com os animais e as forças da natureza.”

Para um povo que acreditava em espíritos deveria ser uma noite de verdadeiro terror, eles tentavam de tudo para se defender e não ser a próxima vítima dos espíritos maus que se ocultavam na escuridão. Infelizmente para os Celta não eram os maus espíritos que acabariam com sua civilização, mas uma ameaça muito diferente estava para dizimar seu povo, colocando um fim a sua forma de vida, o cristianismo.

Com a crescente expansão da religião do cristianismo e a falta de total conhecimento sobre a cultura do povo Celta, a festa de Halloween começou a ser marginalizada e “Mais tarde, durante a Idade Média, a Igreja começou a condenar o evento, e daí surgiu o nome “Dia das Bruxas. […] os curandeiros eram considerados bruxos e por se posicionarem contra os dogmas da Igreja, eles eram queimados na fogueira.” (Diana, 2018) Milhares morreram desta forma medonha!

Mas, mesmo a cultura Celta sendo condenada pela igreja cristã a festa de Halloween era muito boa para ser esquecida e “Assim, na tentativa de afastar o caráter pagão da festa, a igreja promoveu alterações no calendário, de modo que o Dia de Todos os Santos passou a ser comemorado no dia 1 de novembro, o que antes acontecia no dia 13 de maio.” (Diana, 2018) Apesar de muitos curandeiros Celtas terem perecidos nas fogueiras da idade média, a festa foi “cristianizada” e passou a fazer parte do calendário cristão. Com isso criou-se uma verdadeira história de Halloween com elementos comprovadamente de bruxaria, mas agora é oficialmente uma festa cristã. Irônico!

A denominação da festa de Halloween também traz uma curiosidade em sua própria grafia “[...] o nome Halloween decorre da junção das palavras hallow, que significa "santo", e eve, que significa "véspera". (Diana, 2018) Ou seja, uma montagem de duas palavras com diferentes significados, que juntas formam o nome da festa que conhecemos na era moderna.

Com a conquista de novos mundos, o descobrimento de novos continentes, os povos começaram a migrar, levando consigo suas crenças e tradições. Desta forma a festa de Halloween começou a ganhar novos mundos. “Nos Estados Unidos, a tradição do Halloween é muito forte. Foi trazida por imigrantes irlandeses no século XIX. Desde então, a festa é o maior sucesso.” (Diana, 2018)

Na era moderna a festa se afastou um pouco de sua origem, mas os principais elementos continuam inseridos em seu contexto. Hoje “As crianças usam fantasias e batem nas portas das casas dizendo a tradicional frase: “doce ou travessura?” (trick or treat, em inglês). A brincadeira consiste em pedir doces, ameaçando cometer uma travessura a quem negar as guloseimas.” (Diana, 2018)

Criando fantasias e enfeites especialmente para a festa “As casas e as ruas ficam decoradas com temas sombrios (bruxas, caveiras, múmias, vampiros, fantasmas, etc.). Uma das marcas mais emblemáticas da festa são as grandes abóboras com rosto e com velas dentro.” Com isso fazem a festa do comércio destes artefatos e “Atualmente, a comemoração possui um grande valor comercial e a data é feriado nos Estados Unidos.” (Diana, 2018)

O que restou dos símbolos, tradições e fantasias da festa original ainda continua fazendo parte da essência tradicional do Halloween. Mesmo sem conhecerem a história dos antigos Celtas “O pedido de doces realizado pelas crianças está relacionado com a antiga tradição celta. Como forma de apaziguar os espíritos mau as pessoas lhes ofereciam comida. As mulheres celtas faziam um bolo chamado de “bolo da alma”. (Diana, 2018)

Não consigo imaginar como seria o aspecto de uma lanterna feita com nabo! Com a mudança de hemisfério, o nabo foi deixado de lado e “Tendo em conta a abundância de abóboras na época da festa nos Estados Unidos, elas tomaram conta da decoração da festa. Os principais símbolos associados à comemoração são as abóboras com velas, as fantasias de bruxas, caveiras, múmias, fantasmas, zumbis, morcegos e gatos. Além disso, as cores mais utilizadas são o preto, o roxo e o laranja.” (Diana, 2018)

Com o acréscimo das abóboras na festa de Halloween estabeleceu-se o símbolo máximo da festa na era moderna e hoje não podem faltar em uma boa comemoração do dia das bruxas. A festa não seria a mesma se faltassem as cabeças de abóboras acesas nas casas ou fossem substituídas por outra coisa, mesmo que fosse uma lanterna de nabo, não seria a mesma coisa, nem teria o mesmo aspecto e apelo sinistro da data celebração.

No Brasil o conhecimento e popularização da festa de Halloween “[…] ocorreu por influência estadunidense sendo, portanto, uma comemoração recente no país. No entanto, ainda não é comparada com as festividades que se realizam nos Estados Unidos. Antes não era comemorada, mas há 20 anos tem vindo a se tornar um hábito. Ainda que no Brasil o Halloween não tenha grande tradição, existem muitas festas temáticas que ocorrem no dia 31 de outubro atualmente.” (Diana, 2018)

Mesmo a festa sendo ainda bastante tímida no país, “Um dos maiores propulsionadores dessa cultura foram os cursos de idiomas no país. Em muitas escolas de línguas se comemora com os alunos a data relacionada com a cultura inglesa e estadunidense.” (Diana, 2018) Com isso, mesmo que timidamente, o Halloween vem fazendo novos adeptos a cada ano que passa.

Na tentativa de popularizar a festa e trazer algo mais conhecido nacionalmente em seu contexto foi inserido um personagem do folclore brasileiro que atende pelo nome de Saci – Pererê. “O Dia do Saci foi introduzido no país em 2003 através do Projeto de Lei Federal n.º 2.762. A ideia era celebrar algo que fosse pertencente ao folclore nacional e, portanto, é comemorado no mesmo dia do Halloween: 31 de outubro.” (Diana, 2018)

Não é fácil mexer com o Saci, muito pior ser o alvo de suas traquinagens, “Dentre as principais traquinices, o Saci gosta de dar nó nas crinas e rabos dos cavalos, confundir as pessoas e animais com assobios, fazer com que as coisas desapareçam e trocar os recipientes de sal e açúcar nas cozinhas.” (Diana, 2018) Tornando a vida do alvo de suas brincadeiras um verdadeiro inferno.

Não contendo um aspecto sóbrio o Saci – Pererê apesar de brincalhão, aprontar com tudo e todos, é melhor aceito no país do que o aspecto sóbrio da festa de Halloween. Com caveiras, cabeças de abóboras, máscaras e muitos elementos de cor escura, a festa do dia das bruxas incomodava algumas pessoas, o que não acontece com a festa do Saci – pererê, por isso a sua popularização.

No Brasil “A capital nacional do Saci é a cidade de Botucatu, no interior de São Paulo. A Associação Nacional de Criadores de Saci (ANCS) tem sede no município e tem como intuito principal divulgar essa figura folclórica.” (Diana, 2018)

Junto com a capital nacional do Saci, ajudando em sua divulgação está “A SOSACI – Sociedade dos Observadores de Saci, por sua vez, é uma organização que foi criada em São Luiz do Paraitinga e que tem como objetivo valorizar a cultura popular brasileira incentivando o desenvolvimento de projetos que promovam a sua difusão.” (Diana, 2018)

Melhor aceito pela comunidade brasileira e sendo um ícone do folclore nacional“[...] o Dia do Saci surge em contraposição à cultura dos países de língua inglesa. Por esse motivo, a data escolhida foi dia 31 de outubro, o mesmo dia que se comemora o Halloween em diversas partes do mundo.” (Diana, 2018) Em um só dia se comemora o fim do verão em outros hemisférios, a noite das bruxas em todos os lugares e como no Brasil estamos na primavera, nos divertimos com as peripécias do pivete Saci – Pererê.

Desta forma diversos países continuam a festejar o Halloween, mantendo a tradição Celta viva. Não importa se ele é chamado de dia das bruxas, Halloween ou dia do Saci, na essência é a festa Celta, de origem pagã, que o cristianismo tentou esmagar, mas de certa forma foi esmagado por ela. Resistiu ao tempo, perseguições, preconceito e continua sendo celebrada todos os anos,  lembrando o dia de apaziguar os espíritos que sempre foram cultuados e honrados pela cultura do povo Celta. Por isso neste 31 de outubro, viva o dia do Halloween, dia de alimentar os espíritos, dia de doces ou seria de travessuras? Você decide!

Meu blog:

http://guerreiro-das-sombras.webnode.com/

Para saber mais:

DIANA, Daniela. História do Halloween. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/historia-do-halloween/ Acesso em: 29/10/2018

DIANA, Daniela. Dia do Saci. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/dia-do-saci/ Acesso em: 29/10/2018