O luto: a impotência diante do irreversível

     Peso e cabelo podem ser modificados. Trabalhos também, ainda que cada um de nós, por suas próprias particularidades acabe enfrentando alguns problemas de desapego. Mas quando se trata de um ente querido, o mundo para. 

     Cada um enfrenta o luto de um jeito, de acordo com sua própria história. O que  é inegável é que pra todo mundo é aquela dor que fisga, questiona, martela, mexe com conceitos e crenças. 

     Não é só o amor perdido. É reconhecer que apesar das nossas habilidades, somos tão finitos quanto qualquer ser vivo sobre o qual exercemos domínio. Dói reconhecer que existe uma força maior que a nossa. E machuca aceitar que o irreversível existe. A gente passa uma vida inteira se desculpando, se refazendo e é com a morte que a gente aprende que nem tudo se refaz.  

     Toda essa ficha caindo é um tempo que precisa ser vivenciado. Chorado, gritado, esbravejado ou apenas silenciado. A hora de procurar a ajuda do analista é quando a gente percebe que vivenciar esse estágio amorteceu a própria vida. Quando a vida congelou na dor. 

     E junto ao analista a gente enxerga na própria história, na oportunidade e no espaç de fala, os motivos desse torpor. Entende as possibilidades perdidas. Se seriam viáveis ou não. Aprende que na dor também se cresce. Aprende a falar sobre, sem que se machuque, sem que doa tanto.  E a vida continua mais suave.