O SIMBOLISMO DA PÁSCOA

                                                    Imagem: https://www.mensagenscomamor.com/frases-de-pascoa

Páscoa, atualmente uma festa do calendário cristão, comemorada anualmente em todo o mundo cristão. Há muito simbolismo nela para todos que acreditam e também existem vários significados que foram sendo mudados ao longo dos séculos, chegando ela nessa forma que conhecemos atualmente. Um dia de troca de presentes, comemoração com a família e amigos, muitos ainda reservam esse dia para viajar e estar com seus entes queridos. Mas essa festa seria somente isso? O que ela realmente significa? Isso depende de cada um e poderemos ver nas próximas linhas o que ela significa realmente. Vejamos:

Para os judeus:

Segundo David Pereira T. Filho (2016, P.1) a primeira “Páscoa foi instituída na noite em que ocorreu o Êxodo do Egito. A primeira Páscoa (isto é, com um novo significado) foi celebrada na Lua Cheia, no final do dia 14 do mês de Abibe; aproximadamente no ano de 1445 a.C.” Após essa primeira vez, a celebração da páscoa tornou-se lei e “Dali em diante deveria ser celebrada anualmente (Êx 12.14, 17-24). A Páscoa instituída por Yahweh no Egito foi acompanhada por leis que regiam a sua observância.”

Com o tempo e já na terra prometida livre da escravidão dos egípcios “A Festa da Páscoa, a primeira das grandes Festas judaicas mencionadas na Bíblia, é observada e comemorada pelos judeus mais do que qualquer outra Festa do calendário judaico.” (Pereira T. Filho, 2016 p.1) Apesar de ser descrita como lei e todos os judeus serem obrigados a participar, eles fazem com vontade, alegria e gratidão, não somente porque são obrigados, mas porque gostam de celebrar essa festa de seu calendário anual.

Em termos de linguagem, expressão de idioma “A Páscoa, no hebraico Pesah, junto com a Festa das Semanas Chag há-Shavuót e a Festa dos Tabernáculos ou Cabanas Chag há-Sucót, é uma das três Grandes Festas ordenadas na Bíblia (Deut 16.1-17).” (Pereira T. Filho, 2016 p.1) Mas, a maioria das pessoas que celebram essa festa, participando de sua comemoração, não ligam para o que quer dizer em sua língua antiga, além da comemoração da libertação do povo de Israel do Egito, esse sim, para eles é o real significado da festa.

Para os judeus a festa da páscoa é dividida em duas partes, sendo que “A Festa do Cordeiro Pascal é a Festa mais antiga das duas. Nos tempos em que a maioria dos judeus ainda era formada de pastores nômades no deserto, as famílias judaicas comemoravam a chegada da primavera oferecendo o sacrifício de um animal.” (Pereira T. Filho, 2016 p.1) Há muitas referências bíblicas sobre o assunto e uma delas é que “Neste ponto da Bíblia Moisés pede a Faraó que deixe os filhos de Israel irem até o deserto para celebrarem uma Festa a Yahweh (Êx 5.1). Este episódio aconteceu o efetivo Êxodo dos judeus do Egito.”(Pereira T. Filho, 2016 p.1) De certa forma, estavam enganando o faraó, dizendo que somente estavam indo celebrar a festa, mas estavam com a intenção de fugir do Egito, esse era o real objetivo deles.

Já a segunda parte da festa da páscoa “A Festa do Pão Asmo era uma Festa Agrícola primaveril separada na qual os camponeses judeus de Israel celebravam começo da colheita de grãos. Antes de cortar os grãos, eles separavam toda a massa azedada (a massa fermentada era usada, em vez de levedura, para levedar o pão).” Porém essa segunda parte das festividades também mudou o seu significado e “Com o tempo, estas duas Festas da primavera ficaram associadas com o outro evento ocorrido na primavera: «O Êxodo do Egito».”(Pereira T. Filho, 2016 p.1)

Portanto “A Bíblia apresenta estas celebrações de primavera da seguinte forma: «A Festa do Pão Asmo» (sem fermento), conhecida antes da experiência judaica no Egito, foi ligada à repentina saída dos Filhos de Israel do Egito, quando «levou o povo a sua massa antes que estivesse levedada » (Êx 12.34; 23.15).” (Pereira T. Filho, 2016 p.1)

Com a saída e libertação do povo de Israel de sua escravidão no Egito “Estas duas Festas que eram celebradas antes do Êxodo, portanto, adquiriram na saída dos Filhos de Israel do Egito, uma significação religiosa totalmente nova; exprimem a salvação trazida ao povo de Israel por Yahweh Deus, como explica a instrução que acompanha a Festa (Êx 12.25-27; 13.8).(Pereira T. Filho, 2016 p.1) Isso para os judeus, perdura até hoje e assim como os cristãos celebram sua páscoa todos os anos, os judeus fazem o mesmo com a sua celebração, mas ambas têm diferentes significados.

Para os cristãos praticantes:

A celebração da páscoa começou somente com a morte e ressureição de Jesus Cristo, descrito nos primeiros livros dos envangelhos do novo testamento da biblia sagrada. Antes, não haviam cristãos e consequentemente sua páscoa não existia. Para eles  é uma época de reflexão, época de oração, agradecimento pelo sacrifício de Jesus Cristo pelos pecadores. Começando já na sexta feira santa, que segundo sua crença, foi o dia em que Jesus subiu ao monte da caveira e foi crucificado. Nesse dia os praticantes da religião cristã não trabalham, não fazem o menor barulho e se for extremamente necessário, fazem somente o que precisar, mas nada de trabalho pesado. Alguns mais devotos passam o dia em jejum. Sua alimentação também muda, não sendo admitido o consumo de carne vermelha e seus derivados na sexta feira santa, em respeito ao sacrifício de Jesus. Nem mesmo é admitido o consumo de carne de aves, somente exceção feita a carne de peixes, essas sim podem ser consumidos.

No domingo o dia santificado que segundo diz a tradição cristã é o dia em que Jesus Cristo ressuscitou após estar três dias morto e enterrado. Nesse dia todos celebram a ressurreição com festas e troca de presentes entre amigos e familiares. É um dia de alegria, um dia de festividades e comemorações junto a família e ninguém, nem mesmo o comércio trabalha, somente havendo raras exceções, locais que não podem ficar sozinho ou que precisam realmente abrir, por exemplo: igrejas, museus, cinemas, casas de diversão e alguns bares. Todos os demais estabelecimentos comerciais e empresas dispensarem seus funcionários para que comemorem essa festa que faz parte do calendário cristão.

Para o comércio:

Época de vendas, muitas vendas, enormes vendas. Nessa época as empresas prestadoras de serviço para o comércio, reforçam a contratação de promotores e demonstradores de produtos, tudo com a intenção de alavancar suas vendas. Inúmeras promoções são realizadas, abordagens diretamente ao consumidor, visando convencer ele seu principal objetivo a comparar e por isso “atacam” eles nos corredores dos supermercados, lojas e até nas ruas. São milhões de folders distribuídos para os potenciais clientes, milhares de produtos de época pascalina em exposição a venda, dessa forma movimentando o comércio das cidades, fazendo aquecimento da economia nessa época de festas.

Em algumas empresas ainda resiste a tradição de presentear o trabalhador com alguma lembrancinha que faça lembrar essa data festiva. A prática vem caindo em desuso, mas em alguns lugares ainda é cultivada essa tradição e os funcionários recebem uma pequena lembrancinha em forma de folheto, cartão, bombons e alguns recebem uma pequena cesta com chocolate de presente, mais isso é muito raro acontecer, ficando mais nas pequenas lembranças para cada trabalhador. Para as empresas que ainda seguem essa tradição, é muito louvável que elas continuam priorizando o trabalhador, mantendo essa relação saudável com eles, pois os trabalhadores são o maior e melhor bem material que as empresas possuem, mas a maioria já esqueceu disso. Sem eles, nem uma empresa se mantém ativa.

Para o coelho:

Um animal que representa a fertilidade, símbolo a muito tempo disso devido a quantidade de filhotes que eles podem gerar durante sua vida. Não é um animal da família das galináceas, nem coloca ovos para gerar seus filhotes, todos eles nascem conforme todos os mamíferos, ou seja, o embrião se desenvolve no útero da fêmea e após estar completamente formado, ele nasce, saindo do interior dela já completamente formado. Nada tem a ver com a postura dos ovos, menos ainda com os ovos de chocolate.

Mesmo com todas essas discrepâncias o coelho é um dos maiores símbolos da páscoa, principalmente para que vive no ocidente. Mas como isso é possível? Quase tudo que fica como sendo tradição com o passar dos séculos para a posteridade, começa de alguma forma sem muito alarde, sendo feito por um grupo de pessoas, amigos, um bairro, uma cidade, região ou até um país, sendo copiado por outros locais e quando menos se espera, vira tradição. Com o coelho não foi diferente e tornou-se hoje um dos símbolos da páscoa.

Como “O coelho é um animal que simboliza fertilidade graças à sua intensa prática reprodutiva. Desde civilizações bem antigas, como a egípcia, a ligação entre coelhos e fertilidade, primavera, nascimento, etc., é estabelecida.” (Fernandes, 2017 p.1) Ele sempre foi admirado pela quantidade de sua prole e pela sua frenética reprodução.

Elevando essa admiração dos povos antigos no símbolo da fertilidade as mais altas esferas, endeusando o mito do coelho. “Na Europa, os povos germânicos, que habitavam a região norte – atualmente, a Alemanha –, possuíam uma narrativa mítica sobre uma deusa da fertilidade cujo nome era Ostara.” Segundo a lenda “O coelho era símbolo do culto a essa deusa, posto que, passado o inverno e tendo início o período da Primavera (estação que simboliza o “renascimento”, a floração, a fertilização), os coelhos eram, com frequência, os primeiros a saírem de suas tocas e começarem a reproduzir-se.” (Fernandes, 2017 p.1) Portanto, o primeiro animal a começar reproduzir, perpetuando a sua espécie, fazendo dessa forma com que simbolizasse para os povos antigos, o símbolo do renascimento, um símbolo da sobrevivência após o longo e rigoroso inverno.

Essa era uma festa pagã que já existia muito antes da Alemanha existir como nação, mas como tudo parece poder ser convertido ao cristianismo, essa foi uma das muitas festas pagãs, transformada em festa do calendário cristão. “No período da Idade Média, o culto à Ostara e à estação da Primavera logo passou a ser associado à Ressurreição de Cristo, em face da cristianização dos povos bárbaros.” (Fernandes, 2017 p.1)

Dessa forma e com o simbolismo trocado foi difundido pelo mundo onde havia cristãos praticantes e também “Com a leva de migrações alemãs para o continente americano, essa prática generalizou-se.” (Fernandes, 2017 p.1) Inclusive as famílias alemãs que migraram para o Brasil, trouxeram consigo sua cultura e suas crenças, praticando e difundindo sua cultura nas novas terras. “Os mais antigos registros sobre a lenda alemã do coelho que traz os ovos para as crianças datam de 1678.” (Fernandes, 2017 p.1) Hoje poucos sabem da origem dessa tradição e do simbolismo por trás dela e menos ainda sabem que é uma antiga festa pagã, disfarçada em festa cristã.

Para as crianças:

Com a quantidade de propagandas veiculada pela mídia na época da páscoa e pela quantidade de ovos de chocolates e suas variações produzidas, não é de estranhar que essa festa faz a alegria da criançada. Em uma época mais antiga, quando não havia tantos ovos de chocolates a disposição de todos, essa festa era extremamente esperada pela garotada e os pais faziam de tudo para poder comprar pelo menos alguns deles para não deixar a data passar em branco.

Como elas não precisam sair na caça ao coelho, elas acompanham seus pais aos supermercados e lojas, divertindo-se olhando as “parreiras de ovos” montadas no interior, muitas delas tentando convencer aos gritos seus pais, querendo levar todos os ovos de chocolate junto com ela. O colorido do interior das lojas e suas vitrines, chamam atenção de todos que passam por elas.

Nessa época as lojas e supermercados fazem de tudo para expor seu estoque, contando com os pais que levam junto consigo seus filhos para ver a quantidade de ovos de chocolates para a páscoa e dessa forma alimentando a venda de seu estoque, estimulando a produção da indústria especializada em produtos dessa natureza.

Conclusão

Poucas pessoas realmente tem consciência do valor dessa festa, quem consegue realmente saber o significado dela, tenta passar aos demais o que descobriu. Hoje ela não simboliza o espírito de primavera que movia os povos antigos, mas o espírito da ressurreição, o espírito da superação o espírito de quem venceu a morte, ressuscitou e subiu ao céu, não ficou com seu corpo para sempre enterrado. Desse simbolismo de ressurreição nasceu uma das maiores religião mundial, o cristianismo, que continua até os dias de hoje.

Depois saem dirigindo alcoolizados com seus carros, envolvendo-se em acidentes, muitos deles fatais. O dia de páscoa passam bêbados, envolvidos em brigas e acidentes e uma festa que é para comemorar a vida, ressurreição e o sacrifício de Jesus, transforma-se em uma festa de consumo, excessos, mutilações, fatalidade e mortes, nem de longe lembra a festa da páscoa, não importando a tradição que a originou.

Meu blog:

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Para saber mais:

FERNANDES, Cláudio. "Coelho da Páscoa"; Brasil Escola. Disponível em <http://brasilescola.uol.com.br/pascoa/coelho-da-pascoa.htm>. Acesso em 15 de abril de 2017.

T. FILHO. David Pereira, Páscoa judaica. Disponível em: http://www.doutrinasbiblicas.com/pascoajudaica_t/pascoajudaica.htm Acesso em: 15/04/2017