Um milagre de natal

                                                 Imagem: http://sorocabaemfoco.com.br/a-origem-do-natal/

Segundo a sabedoria popular, na época do natal as pessoas ficam mais sensíveis, mais humanas, muito mais receptivas, propensas a fazer o bem a todos que encontram, ou seja, todos entram no espírito natalino e se comportam como seres humanos realmente. É a melhor época do ano, não há outra data no calendário cristão que convida a todos refletir sobre suas vidas e estender a sua mão ao próximo.

Talvez seja por isso que é o período onde acontecem mais milagres nas vidas dos seres humanos. É o período onde as pessoas ficam mais concentradas nas festividades de natal, pensando menos em suas próprias vidas e olhando mais a vida do próximo. Essa data é tão poderosa que até batalhas ela parou neste dia e não foi qualquer uma batalha, foram batalhas da Primeira Guerra Mundial.

Com toda a bestialidade de uma guerra, massacres e mortes de ambos os lados, mesmo com o cheiro da morte no ar, o espírito de natal tomou conta dos soldados dentro das trincheiras da Primeira Guerra Mundial. É claro que não foram todos que participaram desta trégua e enquanto alguns se confraternizavam, outros utilizavam o dia de natal para continuar matando seus inimigos.

Porém uma grande parte da frente de batalha participou do que ficou conhecida mundialmente como Trégua de Natal. Segundo a Wikipédia A Enciclopédia Livre (2017) “[...] é o termo usado para descrever o armistício informal ocorrido ao longo da Frente Ocidental no Natal de 1914, durante a Primeira Guerra Mundial.” Nesse dia os soldados esqueceram da guerra, pararam com a matança e foram festejar com os soldados do outro lado das trincheiras, que até poucos minutos eram seus inimigos. Desta forma provaram que o coração humano é feito de amor e o ser humano procura por ele em todos os lugares, apesar de alguns acreditarem que ele não existe.

De qualquer forma e sem algum tipo de acordo “Durante a semana que antecedeu o Natal, soldados alemães e britânicos trocaram saudações festivas e canções entre suas trincheiras; na ocasião, a tensão foi reduzida a ponto dos indivíduos entregarem presentes a seus inimigos.” (Wikipédia, 2017) Não havia mais inimigos, nem o onipresente som de artilharia, gritos e suspiros dos recém-abatidos, tudo ficou calmo e a morte teve que dar uma trégua, pois ninguém estava disposto a matar, nem mesmo seus inimigos que estavam bem a sua frente.

Deixando as malcheirosas trincheiras para trás “Na véspera de Natal e no Dia de Natal, muitos soldados de ambos os lados – bem como, unidades francesas ainda que em menor número – se aventuraram na "terra de ninguém", onde se encontraram, trocaram alimentos e presentes, e entoaram cantos natalinos ao longo de diversos encontros. As tropas de ambos os lados também foram amigáveis o suficiente para jogarem partidas de futebol.”  (Wikipédia, 2017) Se isso não é um milagre de natal, não sei o que pode ser, uma força tão poderosa a ponto de parar uma das maiores guerras que a humanidade já travou.

Até hoje “A trégua é vista como um momento simbólico de paz e de humanidade meio a um dos eventos mais violentos da história moderna, mas não foi universal: em algumas frentes de combate a luta continuou durante todo o dia, enquanto em outras foi feito apenas o trabalho de recolher os corpos.”  (Wikipédia, 2017) Desta forma enquanto alguns estavam se confraternizando outros continuavam matando seus semelhantes indiferentes ao dia de natal, para eles era somente um dia a mais para matar seus inimigos, mas para quem participou da trégua de natal, foi um acontecimento único, uma experiência que levaram para todas as suas vidas.

Infelizmente a trégua de natal aconteceu somente uma vez e “No ano seguinte, algumas unidades estavam dispostas ao cessar-fogo durante o Natal, mas a trégua não foi tão divulgada como em 1914, devido em parte às ordens dos altos-comandos de ambos os lados que proibiram tal confraternização. Em 1916, após as sangrentas batalhas de Somme e Verdun e com o início do uso generalizado de gás venenoso, os soldados de ambos os lados cada vez menos enxergavam seus adversários como humanos, e a trégua de Natal não voltou a ser realizada.” (Wikipédia, 2017) Mas o fato já havia ocorrido e a história contaria com essa página inusitada, algo que ninguém esperaria que acontecesse no calor de uma guerra.

Apesar de não se repetir a trégua de natal nos anos posteriores ao desenrolar da Primeira Guerra Mundial, quem participou não esqueceu o episódio, que a princípio ficou oculto, mas depois foi revelado ao mundo. “A trégua começou na véspera de Natal, 24 de dezembro de 1914, quando as tropas alemãs decoraram o entorno de suas trincheiras na região de Ypres, Bélgica, havendo várias tréguas não oficiais esparsas que perduraram, por até seis dias.” (Wikipédia, 2017)

E não foram somente alguns soldados que participaram da trégua de natal do ano 1914 “O historiador americano Stanley Weintraub calculou em, aproximadamente, cem mil soldados de ambos os lados, aderindo em algum momento às tréguas de natal de 1914. Mas esta trégua não oficial não atingiu a todos os soldados localizados no Front ocidental, sendo que houve vários locais em que a batalha sangrenta prosseguiu normalmente durante o dia de Natal.”  (Wikipédia, 2017)

Também “Os alemães colocaram velas nas trincheiras e decoraram árvores de Natal, continuando em seguida a celebração ao cantar canções de Natal. Os britânicos responderam cantando as suas próprias canções.” (Wikipédia, 2017) Com o cheiro da pólvora impregnando o ar, corpos por toda parte, mesmo assim eles decoraram seu local de batalha com artigos alusivos ao natal. Deve ter sido uma cena surreal para quem olhava ao longe. 

Muitos soldados ficaram parados em suas trincheiras, e “Houve casos em que alemães e ingleses começaram, de suas próprias trincheiras, a cantar unidos os mesmos cânticos natalinos, ainda que em suas próprias línguas e versões como escreveu o fuzileiro Graham Williams, da 1ª Brigada de Fuzileiros de Londres: “Começamos a cantar O Come, All Ye Faithful e imediatamente os alemães se uniram cantando o mesmo hino em suas palavras latinas, Adeste Fideles. Que coisa extraordinária – duas nações inimigas entoando o mesmo cântico no meio da guerra”. (Wikipédia, 2017) Inimigos pela política e amigos unidos pelo espírito humano!

Em meio a toda comoção dos soldados entrincheirados “Os dois lados continuaram gritando saudações de Natal um para o outro, até que começaram a surgir convites e iniciativas de ambos os lados para uma trégua e até um encontro pacífico, como, por exemplo, o descrito anos depois pelo capitão alemão Josef Sewald, do 17º Regimento Bávaro: “Gritei para os nossos inimigos que não queríamos atirar e que faríamos uma trégua de Natal. Disse que eu viria do meu lado e que poderíamos conversar entre nós.” (Wikipédia, 2017) E agora o que fazer, o inimigo estava chamando para que participasse de suas comemorações de natal, mas seria festa ou armadilha?

Nesta hora tiveram que ter mais coragem do que em batalha, pois se o inimigo estivesse blefando, todos que saíssem de suas trincheiras poderiam ser mortos. Por isso o relato do capitão alemão Josef Sewald prossegue dizendo que “A princípio, houve silêncio, voltei a gritar e um inglês gritou, "Parem os tiros!” Aí um deles saiu das trincheiras e eu fiz o mesmo, e nos aproximamos e trocamos um aperto de mãos – um tanto cautelosos!” Pouco depois, começaram a se fazer travessias através da Terra de Ninguém, onde eram trocados alguns presentes, como tabaco, alimentos, álcool, ou recordações como botões e chapéus. A artilharia nesta região permaneceu em silêncio.” (Wikipédia, 2017)

Já “Na manhã de Natal, uma Missa bilíngue foi rezada por um padre escocês e um seminarista alemão selou o momento de ecumênica harmonia, “um espetáculo extraordinário”, deslumbrou-se o tenente Arthur Pelham Burn, do 6º Regimento dos Highlanders. “Os alemães alinhados de um lado, os britânicos de outro, os oficiais à frente, todos de cabeça descoberta.” (Wikipédia, 2017) Inimigos unidos pelos laços de amizade, paz e amor que mantêm a humanidade unida, apesar de outros acreditarem que o ser humano não consegue viver em paz, pelo contrário, o ser humano gostaria de viver para sempre em paz, somente não encontrou ainda a fórmula correta.

Como se fosse pouco tudo o que foi relatado, ainda segundo testemunhas “É sabido que foi realizada, ao menos, uma partida de futebol amistosa envolvendo soldados franceses, alemães e ingleses, em Saint-Yves, durante o dia de Natal.”  Porém a trégua não ficou somente nos bons momentos vividos pelos soldados de ambos os lados, pois “A trégua também permitiu que os soldados mortos recentemente pudessem ser trazidos de volta para suas linhas para poderem ser enterrados. Foram realizados vários funerais em conjunto. A confraternização teve alguns riscos; alguns soldados foram mortos pelas forças da oposição. Em muitos setores, a trégua durou apenas até a noite de Natal, mas em outras continuou até ao Dia de Ano-novo.” (Wikipédia, 2017)

O milagre de natal ficou para sempre na memória de quem participou e o soldado Bruce Bairnsfather escreveu sobre ele desta forma:

Eu não perderia aquele único e estranho dia de Natal por nada deste mundo... encontrei um oficial alemão, um tenente penso eu, e sendo um colecionador, disse a ele que havia gostado de alguns de seus botões. Eu trouxe meu cortador de arame, retirei um par de botões e coloquei-os no bolso. Então eu lhe dei dois dos meus em troca... depois reparei num dos meus artilheiros, que era cabeleireiro amador na vida civil, a cortar o cabelo bastante longo de um boch dócil, que estava pacientemente ajoelhado no chão, enquanto a máquina de corte deslizava em volta de seu pescoço.
Autor em Título da fonte

Parece pouco, mas basta lembrar que a poucos minutos atrás eles estavam atirando e jogando bombas uns nos outros, mas agora estavam apertando as mãos, trocando presentes, cantando hinos natalinos e trocando presentes, tudo em meio aos horrores da Primeira Guerra Mundial. Mas houve quem desaprovou esse espírito natalino festivo “O general Sir Horace Smith-Dorrien, comandante do II Corpo britânico, revoltou-se ao saber o que estava acontecendo e emitiu ordens estritas proibindo a comunicação amigável com as tropas adversárias alemãs.” (Wikipédia, 2017) 

Do lado alemão também houve quem não gostasse das comemorações de natal, muito menos da confraternização com o inimigo. “Adolf Hitler, um jovem cabo do 16ª Reserva bávara de Infantaria, estava entre os oponentes da trégua, tendo desabafado a respeito que: “Essas coisas não deviam acontecer em tempo de guerra. Os alemães perderam todo o senso de honra?”. (Wikipédia, 2017)

Com todas as proibições e ameaças que seguiram após a trégua de 1914 ela nunca mais aconteceu, mas para quem teve o privilégio de participar dela, ficou uma lição para toda sua vida, uma lição de ter participado de um momento mágico, um momento que o ser humano presencia somente uma vez na vida, se tiver sorte, um momento de luz, um momento de amor e paz, um momento único, um milagre de natal.

Com esta extraordinária história em mente quero desejar a todos vocês meus amigos e seguidores um feliz natal, que o espírito natalino esteja em seu coração e quem sabe você também possa presenciar um milagre de natal em sua vida, algo extraordinário que a mudará para sempre. FELIZ NATAL!

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Para saber mais:

____Trégua de natal. Wikipédia A Enciclopédia Livre. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Tr%C3%A9gua_de_Natal Acesso em: 21/12/2017