MÃO DA GLÓRIA

                 Imagem: http://noitesinistra.blogspot.com.br/2014/07/ritual-de-necromancia-mao-da-gloria.html

Vivemos em um mundo cheio de superstições e crendices, há de tudo um pouco que se acredita ser mágico ou ter efeitos terapêuticos. Encontramos inúmeras pessoas que acreditam em tudo e quando estão com algum problema, acreditam em qualquer coisa que possa dizer que seus problemas serão resolvidos. Milhares de pessoas vivem inseguras pelo mundo e para sentir-se um pouco melhor, escolhe algo para acreditar.

Em meio a tudo isso uma das coisas que não ficou para trás na evolução humana, foram os artefatos considerados com poderes mágicos. Esses artefatos podem variar de século em séculos, mas sempre tem alguém que acredita neles. Mesmo com advento do cristianismo que repudiava tudo o que era considerado pagão, os objetos adorados por milhares de pessoas, continuaram sendo colecionados e guardados no interior de suas casas.

Portanto uma mão mágica que possuía poderes sobrenaturais para proteger quem a possuísse. Uma delas foi encontrada na era moderna e “Segundo o Bladen Journal, uma mão mumificada encontrada em Castleton, North Yorkshire, na Inglaterra pode ser a última “Mão da Glória”, um artefato grotesco que era usado por ladrões para facilitar seu trabalho de invasão à casas, mansões e castelos durante a noite.” (David, 2015 p.1)

Em vez de utilizarem armas de fogo para efetuar seus furtos durante a noite, eles utilizavam uma mão da Glória como sua protetora. “Os larápios acreditavam firmemente que esta mão mumificada teria o poder de facilitar a entrada dos bandidos em qualquer lugar. As “Mãos da Glória” foram também uma ferramenta favorita para ladrões e contadores de histórias por mais de 200 anos.” (David, 2015 p.1)

Interessante deveria ser as histórias contadas por esses contadores medievais, pois não deveria ser menos bizarro escutar suas histórias enquanto eles exibiam uma mão humana mumificada. “A mão mumificada que os jornais têm afirmado ser a última mão da glória foi descoberta pela primeira vez em 1935 no interior da parede em uma casa de palha em Castleton por um pedreiro e historiador chamado Joseph Ford. Ford disse ter reconhecido imediatamente a importância da mão como uma ferramenta de sobrenatural, de modo que ele a doou para o Museu Whitby.” (David, 2015 p.1)

A mão da Glória não poderia ser qualquer mão que foi cortada de um defunto ou de alguém vivo que foi punido com a perda de sua mão, por ter feito algo errado, não. O processo para que fosse “construída” uma mão da Glória era bastante detalhado, conforme descreve Sabine Baring-Gould (1873) em sua obra Mitos curiosos da Idade Média:

“A mão da glória... é a mão de um homem que foi enforcado, e ela é preparada da seguinte maneira: Enrole a mão em um pedaço de mortalha, apertando bem, de modo a espremer o pouco de sangue que podem permanecer; em seguida, coloque-a em um recipiente de barro com salitre, sal e pimenta, que precisa ser escolhida cuidadosamente e macerada até virar pó. Deixe a mão do morto permanecer 15 dias nessa solução até que ela esteja bem seca, e em seguida, exponha a mão ao sol nos dias de sol mais forte, até que esteja completamente ressecada, ou, se o sol não for poderoso o suficiente, seque-a em um forno aquecido com verbena e samambaia. Em seguida, faça uma vela com a gordura de um homem enforcado, cera virgem, e Lapland gergelim”
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Para nós isso é completamente bizarro e muitos com toda certeza não gostariam de ter uma mão mumificada dentro de suas casas, mesmo que fosse somente para proteção. Porém vale lembrar que na era medieval a sociedade se divertia com pessoas sendo enforcadas em praça pública, também gostavam do “espetáculo” de pessoas sendo queimadas vivas, morrendo diante de seus olhos. Portanto, uma mão mumificada era coisa corriqueira e de menor importância se formos pensar em outras coisas que aconteceram durante a era medieval.

A Mão da Glória encontrada na era moderna deixou uma pergunta junto com ela: “[...] por que aquela mão foi escondida em uma parede? O mais provável é que tenha sido por questões de segurança – mas não no sentido usual da palavra. No passado, os itens de vestuário e outros objetos ritualísticos costumavam ser escondidos atrás de muros para os proteger dos maus espíritos. Pode ser uma situação semelhante com a Mão da Glória.” (David, 2015 p.1)

Outra teoria revela que “Também é possível que esta foi uma Mão da Glória escondida depois de um assalto. Mãos de Glória se tornaram objetos populares na literatura a partir de 1700 – 1900 e os contos desses objetos mórbidos se espalharam por toda a Europa, da Finlândia para a Itália, Irlanda e até o lado ocidental da Rússia.” (David, 2015 p.1)

Segundo a lenda “A história de Spital Inn começa com uma velha pedindo o estalajadeiro para dormir em uma cadeira no térreo da estalagem (com o pretexto de que ela precisaria sair cedo na manhã seguinte). O gerente concordou e depois se recolheu para dormir no andar de cima com sua família. A única pessoa que permaneceu no andar térreo era uma jovem empregada doméstica.” (David, 2015 p.1)

Porém “Esta jovem mulher notou algo estranho sobre a “velha” e achou suspeitas umas calças masculinas que apareceram sob a barra do vestido da “mulher” idosa. A empregada disse a si mesma que isso não parecia uma pessoa confiável e planejou permanecer acordada naquela noite para vigiar a personagem suspeita.” (David, 2015 p.1)

Não estava errada “Claro que era um homem. Ele tirou o vestido e a peruca quando acreditava que a jovem estava dormindo e se aproximou dela com uma mão da Glória acesa. Ele acenou na frente de seu rosto disse: “Que aqueles que estão dormindo fiquem dormindo e aqueles que estão acordados fiquem acordados!” (David, 2015 p.1)

Lembrando de seu patrão “Ela correu para cima e tentou acordar a família. Infelizmente, a Mão da Glória tinha feito o seu trabalho e eles estavam todos presos num sono profundo.” (David, 2015 p.2)

Não conseguindo acordar a família que estava sob o efeito da mão da Glória e para seu desespero “Logo, a empregada ouviu os homens tentando arrombar a porta. A moça teve um insight e voltou lá embaixo e tentou apagar a mão da Glória. Ao ver que nada fazia aquela merda mágica apagar, ela pegou um pouco de leite de jogou na mão. Jogar leite é uma das duas opções para apagar uma Mão da Glória; a outra é jogando sangue.” (David, 2015 p.2)

Após tamanha aflição da empregada e “Quando as chamas apagaram, a família acordou e ouviu os gritos abaixo. Eles pegaram os ladrões depois de uma breve perseguição. Os homens prometeram que deixariam a família em paz, se a Mão de Glória fosse devolvida. No entanto, os ladrões foram privados do seu pedido e por pouco não morreram. O estalajadeiro atirou neles, mas eles fugiram.” (David, 2015 p.2)

Para nós ela é uma curiosa revelação das crendices que eram populares na era das trevas, pois nessa mesma época em que a mão da Glória era invocada para proteção, muitas outras pessoas estavam sendo condenadas à morte na forca, fogueira ou na esfolação com conchas marinhas. Também não era uma época muito boa para ideias revolucionárias, principalmente se ficasse contra as doutrinas da igreja que comandavam o modo de pensar e agir da população.

Curiosidade:

Mão da Glória é que o termo pode ser derivado de, main de gloire, que alguns estudiosos sugerem ser uma corruptela da palavra mandrágora, uma erva que teve vários usos ao longo da história, incluindo a incitar loucura, expulsar demônios, e (ser especialmente útil para os ladrões) por induzir a um sono profundo. As inúmeras histórias e lendas por trás da mão da glória significa que, se a mão da glória no Museu Whitby é provavelmente raríssima por ser a último de sua espécie, e por este motivo, a preservação do artefato é muito importante para a história.
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Para saber mais:

DAVID, Philipe Kling. Mão da glória: A bizarra história de uma mão mumificada. Disponível em: http://www.mundogump.com.br/mao-da-gloria-a-bizarra-historia-de-uma-mao-mumificada/ Acesso em: 29/06/2017