O enigma da morte
Imagem: http://lounge.obviousmag.org/poetica_do_desassossego/2015/03/morte.html
Morte, uma palavra que em nossa sociedade é considerada um tabu. Todos conhecem e sabem que um dia vão morrer, mas não querem nem que falem dessa palavra em suas casas, com medo do dia que terão de enfrentá-la. Ricos, pobres, moços, velhos, brancos, negros, todos, terão que um dia a morte enfrentar, sozinhos.
Por mais que tenha dinheiro, status na sociedade, nada o vai livrar de um dia seu corpo ser enterrado, talvez até ao lado de um pobre andarilho. Para a morte não há distinção, ela não recusa ninguém, pode ser um governante, um operário, um empresário ou um mendigo, ambos terão que enfrentar a morte, quando seu dia chegar.
Não é uma regra que pode ser quebrada, não pode ser comprada ou alguém ir em seu lugar. A morte é um enigma que todos terão que decifrar por si mesmos e cada qual tem seu dia escolhido para se apresentar a ela. A morte, esse ser enigmático um dia virá, pedirá sua vida e nada poderá fazer para detê-la.
Os povos de todas as épocas lidam de modo diferente com a morte e seus enigmas. Já na época das cavernas eles se apegaram à religião, apelando aos seus deuses para poder enfrentar a morte sem medo. Na sociedade atual ainda não é diferente, milhões se apegam à religião para poder passar pelo inevitável vale da sombra da morte.
Mesmo negando o fato todos os seres humanos tem medo de enfrentar a morte, por ela ser algo inexplicável para nossa mentalidade limitada, algo que nem a ciência e religião conseguiram explicar. Mesmo com todos os séculos de avanço na tecnologia, a morte apresenta-se um enigma não decifrado, ainda.
O filósofo “Schopenhauer (1788-1860), um dos mais ilustres pensadores alemães do século 19, chega ao ponto de afirmar que "a morte é a musa da filosofia" e, por isso, Sócrates definiu a filosofia como "preparação para a morte". Sem a morte, seria mesmo difícil que se tivesse filosofado.” (NE, 2016) Diante do inevitável, do desconhecido até a própria filosofia reconhece que nada sabe sobre ela, mas tenta encontrar uma explicação.
Um dos filósofos que mais se destacou ao tentar explicar o enigma da morte foi Epicuro (341 – 271 a.C.) sua filosofia “é marcada por seu caráter preponderantemente hedonista – ou seja, favorável aos prazeres moderados. Um dos grandes méritos de Epicuro foi ter contribuído para libertar as pessoas do medo – sobretudo, da morte.” (NE, 2016) Pelo menos ele tentou, visto que até hoje a humanidade tem medo da morte e se escondem atrás de dogmas, crenças e religiões para tentar suportar quando o inevitável dia chegar.
Para o filósofo Epicuro “Ao considerar o ser humano como uma entidade coesa, formada por um conjunto de átomos em movimento, Epicuro concebe o fim da vida como um processo tão inevitável quanto natural, descrito como a simples dissolução dessas partículas elementares – que, mais tarde, se reunirão novamente, dando origem a outros seres.” (NE, 2016) Um conceito de reencarnação ou transformação da matéria como a conhecemos.
Segundo Epicuro em sua explicação filosófica, a morte por mais que a tememos não é para nós, mas para os que ficaram. Ele explica que já não é para nós porque não estaremos mais aqui para ver a nossa morte “Razão pela qual o filósofo sustenta: "A morte nada significa para nós". Ao contrário do que acreditavam Sócrates e Platão, ele justifica sua convicção: "A morte é uma quimera: porque enquanto eu existo, ela não existe; e quando ela existe, eu já não existo". (NE, 2016)
Parece que o filósofo enfim conseguiu uma razoável explicação para o enigma da morte, afinal de contas quem vai ver seu corpo dentro de um caixão, não será você, mas seus amigos e familiares. Eles são os que vão lamentar, chorar pelo ocorrido, para eles é sua morte, mas para o defunto, isso nada mais faz sentido, afinal de contas a sua vida terminou, ela não pertence mais a esse mundo.
Sem medo, dor, choro, sofrimento ou sentimentos, nada mais importa, eles não podem mais afetar quem morreu. Sua existência nesse mundo acabou agora você não faz mais parte dele e todos os sentimentos que um dia sentiu, acabaram e não há nada que você possa fazer.
Por isso ela vai continuar sendo um enigma, atormentando a tudo e a todos, envolvendo um a um em seu manto mortal. Por isso “Enquanto a filosofia permanece desconhecida, o homem vive de forma tranquila e é o conhecimento de sua existência e a percepção de que se é finito que o torna temente à morte.” (Schopenhauer, 1788-1860)
Já “O animal vive sem conhecimento verdadeiro da morte: por isso o indivíduo animal goza imediatamente de todo caráter imperecível da espécie, na medida em que só se conhece como infinito da espécie, na medida em que só se conhece como infinito.” (Schopenhauer, 1788-1860) Por isso eles não tem medo da morte, não há consciência nos animais que um dia ela chegará para eles.
Mas o ser humano tendo consciência de sua existência na terra, seguimos os passos do nascimento, crescimento, amadurecimento, envelhecimento e por fim a morte, e “Com a razão apareceu, necessariamente entre os homens, a certeza assustadora da morte." Por isso esse enigma vai continuar a existir, perturbando a consciência do ser humano. Você pode negar que tem medo dela, mas não vai conseguir escapar de seu manto mortal.
Meu blog: http://guerreiro-das-sombras.webnode.com/
Para saber mais:
___A morte na visão de seis filósofos. Disponível em https://novaescola.org.br/conteudo/263/amorte-na-visao-de-seis-filosofos Acesso em: 11/02/2017
Recomendo a leitura do livro “A vida que vale a pena ser vivida” do professor Clóvis de Barros Filho e do filósofo Arthur Meucci da editora Vozes.
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Comentários
Sergio Weinfuter
há 7 anos #3
Sim é isso mesmo, não adianta temer o inevitável, @Maria do Socorro Oliveira.
Sergio Weinfuter
há 7 anos #2
Julio Angel 🐝Lopez Lopez
há 7 anos #1