Sergio Weinfuter

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Sei que nada sei...

Sei que nada sei...


Fi

                                Imagem: http://g1.globo.com/platb/espiral/2008/01/25/o-rato-que-sabia-demais/



O que seria do ser humano sem o conhecimento acumulado de geração em geração? O que seria de todos nós sem esse conhecimento passado pelos nossos ancestrais e consequentemente o mesmo conhecimento que temos hoje e o que descobriremos amanhã, será passado para as próximas gerações? Aprendemos todos os dias e de certa forma também ensinamos aos mais novos o que aprendemos com nossas experiências de vida.



A mais vasta biblioteca não se encontra em nenhuma canto de uma grande cidade, muito menos em locais de grande turismo. Encontramos esta vasta biblioteca em cada ser humano que conhecemos, cada qual com uma variedade de experiências acumuladas para nos contar e também ensinar. Aprender com os erros dos outros é uma virtude, mas aprender com o acerto deles, requer muita humildade, domínio próprio sobre sua mente e corpo. Precisa estar com sua mente e coração abertos, deixando de lado todo preconceito ou crenças que atrapalham o aprendizado.



As pessoas não se abrem facilmente para contar suas histórias, suas experiências de vida, erros e acertos que tiveram até o momento. Mas com um pouco de paciência e perseverança conseguimos a confiança delas e aos poucos começam a revelar suas histórias, sejam elas boas ou ruins, histórias de fracassos ou vitórias, todos tem algo a nos contar. Não precisamos julgá-las, muito menos falar mal delas, somente sentar ao seu lado e ouvir suas histórias e aprender com elas.


6f1e7e81.jpgImaginem que história ouviríamos de um mendigo vivendo nas ruas de nossas cidades, passa o dia pedindo algo para comer, vive com sua onipresente garrafa de cachaça na mão. Está vivendo a margem da sociedade, não toma banho, não escova os dentes e os transeuntes desviam-se dele. Suas roupas estão em frangalhos, calçados somente existe a forma dele, não sabe onde vai comer, dormir e nem mesmo morrer. O que será que ele nos contaria? Que história sairia daquele velho corpo maltratado pelos anos que vive de cidade em cidade, alquebrado pelos constantes maus-tratos da vida?



Ao contrário dele o que nos contaria uma senhora de alta classe que passou sua vida desfrutando de todos os bens matériais que o dinheiro pode comprar. Nunca dormiu na rua, muito menos viveu nela, não sabe o que é passar fome, sede e muito menos ter que trabalhar para se sustentar?  Falaria de sua herança de família, filhos, marido, netos, reclamaria que não conseguiu uma vitória financeira ou algo que gostaria de fazer, mas não fez por simples falta de tempo? Não sei, mas com certeza ela também teria muito a nos contar.



Agora se fossemos conversar com um empregado assalariado que passou sua vida trabalhando na indústria, fez disso seu modo de vida. Criou sua família com o parco salário que ganhou, passou seus melhores anos trabalhando e agora que envelheceu, precisa trabalhar mais um pouco, pois o governo diz que ele ainda não tem direito a sua aposentadoria, por isso ele volta a cada dia que passa trabalhar na empresa e aos poucos vê sua vida sumindo. Não tem mais a força de outrora, muito menos a agilidade e disposição, mas sabe que precisa continuar a trabalhar.


31688967.jpgOutra pessoa que poderíamos conversar seria com um veterano do exército que defendeu os interesses de seu país e quando retornou da guerra, viu que seu amado país havia mudado. Ele foi treinado para matar inimigos, mas agora todos se foram e sua função não tem utilidade alguma em seu próprio país. O que fazer de sua vida agora? Curtir sua aposentadoria especial ou correr atrás de seus sonhos? Mas se correr atrás de seus sonhos começar por onde? Trabalhou de segurança em casas noturna ou passou o resto de seu tempo combatendo os demônios de seu interior. O que ele nos contaria, que lições aprenderíamos com ele? 



Que histórias este veterano de guerra nos apresentaria quando fosse um senhor de oitenta, noventa anos? O que teria para nos contar e o que aprenderíamos com sua história de vida? Seria uma grande lição para nós ou nos deixaria tão impressionados que não conseguiríamos pegar no sono a noite. Ouvir falar de seus erros e acertos, paixões secretas ou questões mal resolvidas, conquistas e frustrações, realizações e arrependimentos, com toda certeza seria uma viajem no tempo que nunca mais esqueceremos.



Não precisa ser um professor, muito menos ser formado em curso superior para ensinar uma lição de vida a outras pessoas. Os exemplos estão por toda parte, ao nosso redor. Pessoas que deixaram tudo de lado e lutaram pelo que queriam, foram em busca do que precisaram, não se importaram se a vida disse alguns “nãos” para elas. Não baixaram suas cabeças, muito menos se curvaram quando o momento não era favorável, continuaram em frente em busca do que queriam ou precisavam, jamais desistiram. Pessoas comuns que fizeram história, suas próprias histórias. 


568c5a2d.jpgSeria a história de um pai que abandonou tudo, vendeu terrenos, casas, carros e até largou o emprego quando soube que seu filho estava com câncer. Não se curvou diante do inevitável, fez tudo o que estava ao seu alcance e quando isso ainda foi pouco, vendeu tudo o que possuía. Tentou de todas as formas pagar o tratamento do seu querido filho e somente parou quando o dia da morte do garoto chegou. Não conseguiu salvar seu filho, perdeu tudo o que tinha, mas restou a esperança em seu coração. Estava ciente que tinha feito tudo o que um ser humano pode fazer, mas diante do fim de uma vida, nada pôde fazer. 



Lembro-me com saudades quando conheci um casal de idosos no início dos anos oitenta. Ambos estavam com mais de oitenta anos, porém estavam com suas mentes lucidas e gostavam de contar suas histórias. Haviam passado pela primeira e segunda guerras mundiais, viveram a ditadura brasileira desde o inicio, foram presos, torturados, exilados, sofreram, choraram, sorriram e depois de mais de cinquenta anos de casamento, ainda gostavam da presença um do outro.


Passei diversos domingo em companhia do casal, ouvindo suas histórias e colhendo ensinamentos para minha vida. Enquanto adolescentes de minha idade estavam festejando, namorando ou quem sabe fazendo algo ilícito, passava os dias de domingo em companhia deles e a cada domingo que passava, aprendiam ouvindo suas histórias. Eram história que não figuravam nos livros oficiais de história, não haviam sido editadas conforme as regras didáticas. Eram histórias de pessoas comuns, pessoas simples que viviam na sociedade e muitas vezes, nem eram lembradas. Mas eram histórias verdadeiras, fatos de tirar o fôlego e com toda certeza mereceriam estar dentro de um belo livro.



Com meu falecido avô também passei horas incontáveis em pescarias que não resultaram em nada de peixes. Chegávamos ao lugar escolhido do rio, colocávamos a isca nos anzóis e pelo menos eu, me perdia ouvindo as histórias que ele contava. Aprendi muito com ele, ouvi incontáveis histórias de fatos que ele havia presenciado ou pelo menos dizia que havia participado. Passávamos o dia todo na margem do rio, nunca levávamos peixes para casa, nem sei se algum deles mordeu a isca pelo menos uma vez. O fato que ninguém dizia em palavras era que um apreciava a presença do outro e no rio era onde conseguimos ficar sozinhos, contando histórias e no meu caso ouvindo, sobre sua vida.


6eaa8fac.jpgDepois que ele faleceu, senti-me por algum tempo perdido, não havia mais sua companhia, muito menos ouviria suas histórias novamente. Porém com o passar do tempo pude perceber o quanto valia o tempo que passei com ele e muitos dos seus ensinamentos, utilizo em minha vida. Não tenho mais a companhia dele fisicamente, mas meu avô continua ensinando em meus pensamentos. Não há como negar que foi um tempo de aprendizado, um tempo maravilhoso e não é por ele tinha estudado muito, não. Pelo contrário, ele mal sabia ler, porém havia passado por muitas coisas, vivenciado várias experiências boas e ruins e em cada uma delas, aprendeu algo que depois ensinou aos outros.



Por isso hoje sei que por mais que tenha estudado, por mais que tenha pesquisado, vivido, sentido e as decisões que foram tomadas, todas elas ensinaram algo para mim. Porém por mais sábio que pretenda ser, por mais que aprenda com minhas experiências e com as dos outros, ainda nada sei diante de todo o conhecimento acumulado da raça humana. O pouco que sei hoje é somente uma gota no oceano do conhecimento humano e nunca conseguirei ser mais sábio que todos os seres humanos juntos. Posso ser especialista em algo, mas em outra coisa nada sei. Vou morrer e não vou esgotar o aprendizado deste oceano do conhecimento humano. Uma água que nunca vou deixar de beber e por mais que beba, nunca conseguirei sair da primeira onda. Por mais que seja inteligente, sei que realmente nada sei, tenho muito ainda o que aprender...


Meu blog:

http://guerreiro-das-sombras.webnode.com/


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